9.25.2007

água+ terra = lama

WaterSiltSand at aphoenix.ca

um corpo com apelos de ser gente e a morte ali à espreita a dizer-me que basta de fingir.

água e terra. mistura que dá lama. terra fértil só depois de morrer para o uso antigo. assim sou eu.

corpo de lama a querer ainda que o percorras como água límpida corre em solo produtivo. a querer sem querer. já a saber que não. há tanto tempo a saber já que não. decisão de envelhecer precocemente?

importa a quem saber o que é verdade?

mas há o teu apelo ali ao lado. um lado tão distante como se houvesse um deserto pelo meio. desertámo-nos!

teve de ser assim. morri naquela hora e estava a rir, recordo.

é curioso como decido a rir tudo o que de grave e sério a vida traz.

água + terra= lama assim me sinto. sabendo que não tenho nem quero a única mão que me pode moldar.

9.10.2007

deixa-me só.agora.



work by Alain Briot

o peso do silêncio é já maior do que era o do teu corpo nu.

ponho-te de lado. tem de ser. não respiro.

tudo porque o arco-íris apontou o local onde a morte bateria e ninguém o olhou. ninguém quis. ninguém viu o sinal. e eram tantas cores. as cores todas que em rodopio mistura fazem branco. pureza. inocência. infância.

os grandes estavam tão ocupados a ser grandes. a distrair-se do mundo e do amor. talvez tenham razão, o amor tem peso, muito peso. quase tanto quanto o teu orpo nu que eu empurrei para falar. antes de dar um grito de loucura sã.

os grandes não olharam os céus. olharam-se vagamente uns aos outros. orgia de palavras, tilintar de copos, roupas leves. nada de sobressaltos que afinal a vida são dois dias. dois minutos. dois segundos, menina?

a morte estava na casa para onde apontara o arco-íris. uma alma espraiou-se até ao mar em mistura com o esplendor do céu. os dois foram um só.

houve muito barulho. tanto que me estoiravam os ouvidos. tive vontade de ter o poder de silenciar aquela vozearia. histeria calculada. fria. jogada a poker.

agora há ainda que esperar.

mas só um menino que com ela brincou ainda acredita. - os meninos têm de acreditar em qualquer coisa ou em alguém - que ela voltará para brincar na praia.





work by angel decay


para ele ela virá?

- ainda não. deixa-me agora. tenho sono. um sono sem vontade de acordar.

9.06.2007

começos

work by - Harold Davis

primeiro a água caiu num atroar de cascata. era bom. apaixonante. ao fim de um tempo já eu imaginava inundações dentro e fora de mim. mas era ainda bom. depois imaginei-me rocha onde toda aquela água batesse continuadamente. o corpo estremeceu quase de medo.

- que foi?

pergunta de eco. só poderia ser. não respondi.

som de água era. forte. imensa. em queda. a voz não me importava. mas comecei a desejar que um aguaceiro assim não me durasse a vida. ou seria o contrário? ou tanto de me daria morrer dele?

nunca irei saber. hoje já não. foi abrandando o trovão da água a bater-me, até eu dar um grito de alívio e de louvor a deus ou à natureza.

primeiro foi assim.